«Finisterra», de Manuel Gusmão, por António Guerreiro, no «Actual»

 

No suplemento Actual do Expresso deste fim-de-semana, António Guerreiro dedicou uma breve resenha ao livro de Manuel Gusmão, Finisterra. O Trabalho do Fim: reCitar a Origem, que pontuou com 4 estrelas (neste ponto, concordamos mais com Pedro Mexia…). Transcrevemos o texto, um momento importante da recepção crítica da obra, com a vénia devida:

A recepção crítica de Finisterra, o último romance de Carlos de Oliveira (publicado em 1978), não tem equivalente em nenhum outro romance português da segunda metade do século XX. Esta excepcional fortuna explica-se pela densidade da escrita desta obra e pelo alto teor dos desafios ideológicos e estético-literários que coloca. Aos quais devemos acrescentar ainda um outro, a que Manuel Gusmão não se furta: a irradiação deste romance sobre o conjunto da obra poética e narrativa do autor. Nos seus vários movimentos, a leitura de Manuel Gusmão é também um diálogo crítico com outras leituras que de Finisterra foram feitas, contemplando sobretudo três questões: 1) o trabalho de reescrita, tanto da poesia como de outros dois romances (Casa na Duna e Pequenos Burgueses), o que faz de Finisterra uma súmula e a estação última de um percurso que foi sendo sempre reelaborado; 2) a relação deste romance com o marxismo  a teoria da história que lhe corresponde (uma questão que determina o modo como se entende a situação ideológica da obra do autor e a sua relação com o neo-realismo); 3) a dimensão metaliterária e de poética autoral que Finisterra apresenta. E, para o desenvolvimento deste último ponto, Manuel Gusmão parte de uma pequena nota de Herberto Helder na antologia Edoi lelia doura (1985), onde se diz que Finisterra é «uma alegoria ficcionalmente articulada» e «a melhor introdução ou o melhor comentário à sua obra». Mas talvez o maior desafio a que o requintado crítico Manuel Gusmão tenta responder é o de interpretar o romance de Carlos de Oliveira em chave marxista, ainda que relaborando algumas categorias do marxismo. E, aqui, ele encontra em Walter Benjamin um intercessor altamente produtivo, tanto na sua teoria da aura como nas suas teses sobre um conceito de história que rompe com a linearidade e a continuidade do historicismo.

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