«Aquilo que os olhos vêem ou o Adamastor»: a capa de Bruna Sousa

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Um acontecimento: Manuel António Pina na Angelus Novus

Não é só por ser o último Prémio Camões. E por ser um dos grandes poetas portugueses de hoje. Neste caso, antes disso vem o facto de se tratar de uma pessoa que reinventou a literatura portuguesa para crianças e jovens (dos 7 aos 77, é caso para dizer). É, pois, com muito orgulho que informamos que a Angelus Novus acaba de lançar a 2ª edição do livro de Manuel António Pina Aquilo que os olhos vêem ou o Adamastor, cuja primeira edição data de 1998. Obra de leitura recomendada para o 7º ano, trata-se de uma «revisitação» do Adamastor camoniano em formato teatral, que o autor domina como ninguém, como actores e espectadores tão bem sabem.

Agora, numa livraria perto de si.

Uma resenha brasileira do «Caderno de Memórias Coloniais»

Chama-se Anita Moraes, a autora da resenha que alarga o espectro do impacto do livro de Isabela Figueiredo. Publicada em Buala, publicação online dedicada à cultura contemporânea africana, é um momento importante da vasta recepção deste livro, marcante entre todos, sobre o retorno de África (tema que entretanto parece ter sido descoberto pelos especialistas em descobrir a pólvora). Transcrevemos um excerto, com a devida vénia:

A escrita do Caderno, recuperando e expondo uma memória (apagada, silenciada) de brutalidade, instaura um lugar não previsto na ordem colonial, a distância crítica (não é à toa que a autora diz estar traindo o pai com a escrita). Se a faculdade da leitura permitiu à menina cavar uma distância com relação à prisão social em que vivia, contribuindo para que resistisse à posição de vítima e algoz que lhe era imposta, a escrita parece consolidar esse afastamento. Trata-se de elaborar, pela narrativa, uma nova posição diante do passado, consolidando uma perspectiva singular (para além dos discursos prontos dos grupos envolvidos na ordem colonial; para além do silêncio e da vergonha paralisantes).

O texto integral pode ser lido aqui.

Maria Clara Murteira sobre «A Economia das Pensões»

Transcrevemos um texto que Maria Clara Murteira leu no lançamento do seu livro «A Economia das Pensões», na passada sexta-feira, 23, na Almedina Estádio, em Coimbra.

Nos anos quarenta, Titmuss, eminente académico com um contributo notável no domínio da política social, queixava-se daquilo que designava como a “obsessão dominante” do seu tempo, “de utilizar padrões de referência que elevam as coisas materiais acima das pessoas e tratam a dívida nacional como se esta tivesse maior importância do que (…) as pessoas” [1].   Para infortúnio dos nossos contemporâneos, creio, a obsessão com os défices e as dívidas encontra se hoje hiperbolizada. A preocupação com a escassez de recursos financeiros – os meios – conduz a generalidade dos analistas a negligenciar as finalidades das políticas, eclipsando totalmente o seu propósito humano.

Perspectiva que se revela hoje particularmente expressiva e perversa quando aplicada à esfera das políticas de segurança social. Analisados os sistemas de pensões sob a óptica exclusiva dos custos, o seu propósito último   a segurança de rendimento na reforma – não é sequer mencionado em grande parte dos inúmeros estudos e análises publicados sobre esta matéria. Em consequência, o sucesso das políticas passa a ser avaliado a partir dos seus efeitos sobre os equilíbrios financeiros, presentes e futuros. Assim se construiu a retórica da insustentabilidade das políticas sociais, apoiada numa fortíssima pressão política para a contenção da despesa e na omissão dos efeitos perversos do modelo de regulação macroeconómica seguido na UE sobre esses equilíbrios. O impacto das políticas nas vidas humanas foi ignorado – não integrou a equação – ficando completamente obscurecido pelos dogmas e pelo esquecimento.

Acredito que há razões ponderosas que nos impelem a mudar de perspectiva, na análise económica em geral, mas sobretudo no domínio das políticas sociais, área de relevância crítica pelo seu contributo para a qualidade de vida e a plena realização das potencialidades humanas.

Por pensar assim, este livro foi escrito contra a corrente. Nele, as políticas de pensões são examinadas tendo como ponto de partida os fins dos sistemas e não apenas os seus meios: o livro centra se na segurança de rendimento na reforma.

Este modo, claramente minoritário, de analisar e avaliar as políticas parece me poder ser legitimado por dois argumentos. Porque a consistência lógica a isso obriga, já que o desempenho de um qualquer sistema só pode ser aferido pelo grau de concretização da finalidade que se propõe alcançar. E porque os sistemas de pensões, como quaisquer outros sistemas, não devem ser avaliados independentemente das suas finalidades humanas. Este é um imperativo ético.

[1] Richard Titmuss, The Nation’s Wealth, Extract from Parents Revolt (1943), reprinted in Pete Alcock, Howard Glennerster, Ann Oakley and Adrian Sinfield (eds.), Welfare and Well‐being: Richard Titmuss’s Contribution to Social Policy, Bristol, Policy Press, 2001, p.17.

Lançamento de «A Economia das Pensões»

Foi na passada sexta-feira, 23, na Almedina Estádio, em Coimbra. Perante um público numeroso e atento, Joaquim Feio, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, apresentou a obra de Maria Clara Murteira integrando a questão das pensões na longa duração da modernidade social e económica, chamando a atenção para os perigos do pensamento único nesta matéria e saudando a contribuição do livro para a denúncia do senso comum que hoje vigora na abordagem das pensões.

«A Economia das Pensões», no Le Monde Diplomatique

Chama-se «Contra a economia do medo», assina João Rodrigues e é a primeira recensão do volume de Maria Clara Murteira A Economia das Pensões, na série de Economia da Biblioteca Mínima, obra que teve já o seu lançamento na Almedina Estádio, em Coimbra. Com a devida vénia, anexamos imagem do texto.

O grande Sá de Miranda na Biblioteca Lusitana

Com edição de Marcia Arruda Franco, professora da Universidade de S. Paulo e autora de dois livros sobre o autor na Angelus Novus, um grande acontecimento: a poesia de Sá de Miranda, na Biblioteca Lusitana, colecção dirigida por António Apolinário Lourenço e editada em colaboração com o Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra.

«O essencial sobre a Economia das Pensões»: lançamento na próxima sexta-feira

Abel Barros Baptista ao «Globo»: «Os bons livros tornam-nos estrangeiros»

O último livro de Abel Barros Baptista na Angelus Novus foi o volume de ensaios De Espécie Complicada. O autor foi membro do júri que decidiu atribuir o Prémio Camões a Manuel António Pina e deu, na ocasião da reunião no Rio de Janeiro, uma entrevista ao jornal Globo, que acaba de ser publicada. Transcrevemos a entrevista, com a devida vénia.

Professor de literatura brasileira na Universidade Nova de Lisboa, o crítico português Abel Barros Baptista publicou estudos sobre autores como Graciliano Ramos e João Cabral de Melo Neto, mas é mais conhecido entre nós por dois livros que estão entre os mais importantes lançados nas últimas décadas sobre Machado de Assis. Em “Autobibliografias” e “A formação do nome”, ambos publicados aqui pela Editora da Unicamp, Baptista constrói interpretações originais da obra do escritor brasileiro, dispensando a vinculação estreita entre a ficção de Machado e a história brasileira que caracteriza boa parte da melhor crítica sobre o autor escrita no Brasil. Baptista esteve no Rio em maio para participar da reunião do júri do Prêmio Camões que laureou o poeta português Manuel António Pina. Nesta entrevista ao GLOBO, ele diz que sua condição de estrangeiro diante dos autores que estuda não deve ser pensada em termos de vinculação nacional, mas antes em relação à experiência de estranhamento que define a própria literatura.

Como crítico português que dá aulas de literatura brasileira, o senhor tem se dedicado particularmente a mostrar que o interesse da obra de Machado de Assis não precisa ser necessariamente vinculado ao estudo da sociedade brasileira da época em que ele escreveu. Essa orientação, divergente da corrente predominante na crítica brasileira, dá expressão literal a uma ideia já mencionada pelo senhor em textos e entrevistas: a de que, diante de uma obra literária, o leitor se torna sempre um estrangeiro. O que o senhor quer dizer com essa observação?

ABEL BARROS BAPTISTA: Minha ideia é que os únicos livros que vale a pena ler são aqueles que nos tornam estrangeiros. Estamos perante eles como uma pessoa está diante de uma língua que não domina. O trabalho que se tem que fazer, como leitor, é aprender a admirar aquela língua. Metaforicamente, mas não só. Os grandes autores escrevem livros que são escolas, que nos dão a impressão de que sabemos tanto quanto eles, e que precisamos saber o mesmo que eles sabem para entender aquilo. Mas para que isso aconteça tem que haver um momento do que os formalistas chamam de estranhamento. Tem que haver um momento em que o leitor sente que está fora daquilo, que aquilo não é dele. A pior coisa que pode acontecer na literatura, e que é um traço marcante da banalização, é o leitor sentir-se em casa. O que se chama literatura comercial é a que dá ao leitor uma apreciação do tipo “aqui não há nada de estranho, vais ter exatamente o que queres”. A literatura eu creio que se define, ao contrário, por essa posição de estrangeiro, mas ao mesmo tempo por haver, para essa posição, uma correspondente hospitalidade incondicional. O livro está à espera, é anfitrião. Não nos impõe condições. Aceita qualquer um, imbecil ou não. Aquilo que define a literatura é uma utopia, uma ideia generosa de partilha entre as diferentes pessoas do mundo que leem livros. A ideia de humanidades é a ideia de fazer amigos através dos livros. Foi o que me aconteceu no Brasil. Nunca pus os pés no Brasil antes de publicar os livros sobre Machado. Hoje tenho vários amigos que eu fiz através dos livros que publiquei. Talvez tenha contribuído para mostrar que muito do que se faz no Brasil sobre Machado de Assis está dominado por uma ideia liquidadora, a de que temos que primeiro conhecer o Brasil para depois conhecer Machado de Assis. Minha experiência de leitor prova exatamente o contrário.

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Maria Manuela Carvalho de Almeida (1959-2011)

Maria Manuela Carvalho de Almeida, sócia principal da Angelus Novus, faleceu ontem, na sequência de doença oncológica. Sócia da editora desde os inícios, publicou na Angelus Novus o livro A Literatura entre o Sacerdócio e o Mercado. Professora da Escola Superior de Educação de Coimbra, encontrava-se a preparar uma tese de doutoramento sobre o cinema documental de Agnès Varda.

A Angelus Novus encerra hoje. As cerimónias fúnebres terão lugar na Capela da Nossa Senhora da Boa Esperança, em Santa Clara. O velório terá lugar na capela, a partir das 14.30 h de hoje. Amanhã haverá missa, pelas 10 h, seguindo-se o funeral, para o cemitério de Santa Clara.

Em intenção de Maria Manuela Carvalho de Almeida transcrevemos, do volume O Bebedor Nocturno, de Herberto Helder (Assírio & Alvim, 2011, p. 9), o poema do Antigo Egipto «Ode do Desesperado»:

A morte está agora diante de mim
como a saúde diante do inválido,
como abandonar um quarto após a doença.

A morte está agora diante de mim
como o odor da mirra,
como sentar-se sob uma tenda num dia de vento.

A morte está agora diante de mim
como o perfume do lótus,
como sentar-se à beira da embriaguez.

A morte está agora diante de mim
como o fim da chuva,
como o regresso de um homem
que um dia partiu para além-mar.

A morte está agora diante de mim
como o instante em que o céu se torna puro,
como o desejo de um homem de rever a pátria
depois de longos, longos anos de cativeiro.

Rui Manuel Amaral na Zé dos Bois (I)

Informamos o distinto público que Rui Manuel Amaral, o não menos distinto autor de Caravana e Doutor Avalanche, fará uma residência na Galeria Zé dos Bois no próximo mês de Julho.

E o que quer isto dizer? Que é como quem diz: a caravana afinal era de gado bovino? Pois bem, aguentem um bocadinho que a gente já explica – assim que o autor nos explicar a nós.

«Histórias Amorais para crianças e animais»: o blogue

Fica mesmo ali, nas mãos da personagem de chapéu, e é o blogue do livro de João Diogo Zagalo. Com clips, podcasts, textos, FAQ’s, enfim, tudo o que puder imaginar. Um menu vasto, à sua inteira disposição.

Está à espera de quê?

O canibalismo segundo Rui Manuel Amaral

Perguntaram, há uns dias, a Rui Manuel Amaral se somos o que lemos. Ele respondeu dizendo que somos o que comemos. E apresentou cardápios:

Dostoiévski comeu Gógol e foi comido por Bulgakov. E também Borges, com a sua proverbial fome impossível de satisfazer, comeu Macedonio Fernández e achou-o delicioso.

Não sabemos em que fontes o autor se apoia para estas afirmações temerárias, tanto mais que o livro de Helmut Schwanzkopf citado não aparece nas boas bibliotecas. Mas temos de lamentar três coisas: (i) que o autor não refira o seu cardápio pessoal (limita-se a um dedo mindinho de Manuel António Pina, o que, convenhamos, não é coisa que mate a fome); (ii) que os cardápios indicados não incluam uma única mulher…; (iii) que termine um texto sobre comidinha com refutações taxativas de chefs franceses.

Em todo o caso, e para que o nosso distinto público possa constatar por si («ver para crer» – ou «comer para crer»?), eis o texto do autor de Doutor Avalanche. Sirvam-se.

Isabela na Madeira (II)

Isabela Figueiredo confessou, na sua intervenção, que dorme com a Morena. Sempre atento, Pedro Vieira fez o desenho acima, que Isabela fotografou e aqui fica…

Isabela na Madeira (I)

Isabela Figueiredo anda pelo Festival Literário da Madeira, e, sem surpresa, falando muito bem. Na imagem de cima, a autora em plena função.

Agora, e por último, só para os cultores do minimalismo em p/b (gente de design, arquitectura, bué fashion, e mais alguns), e digam lá se também não funciona bem?

Sabe quem é Francisco Romão?

É o autor do logo da Série Z (e do da Angelus Novus, e da Experimente no Sofá, e da Aviãozinho, etc.) e ainda o autor das artes finais da capa. Por outras palavras, foi ele quem a estragou sem piedade, dando-lhe aquele ar de coisa fanada e digna da nossa memória afectiva…

A ele e a Luís Coroado, ou seja, à Olhar-te, deve a Angelus Novus a sua renovada imagem gráfica. Beijinhos à Olhar-te!

E agora, deixem-nos olhar longamente para este logo sem igual…

Sabe quem é Sebastião Peixoto?

É o ilustrador que faz a capa do volume I da Série Z – e, se Deus e o Ecofin quiserem, dos volumes seguintes.

Veja o blogue do livro e diga lá se o Sebastião não é do catano?!

– Meninos e meninas: Chegou a «Série Z»!

Com Histórias Amorais para crianças e animais, de João Diogo Zagalo, a Angelus Novus estreia a sua – extraordinária, única, fabulástica, espectacular, anacrónica, visionária – Série Z.

Uma série para leitores amantes de efeitos especiais.

«Histórias Amorais para crianças e animais», por João Diogo Zagalo

Agora sim, o verdadeiro retrato do artista em corpo inteiro.

João Diogo Zagalo: retrato do artista enquanto Oscar Wilde

João Diogo Zagalo: retrato do artista enquanto pirata das Caraíbas

João Diogo Zagalo: retrato do artista enquanto Nick Cave

João Diogo Zagalo: retrato do artista no show business

João Diogo Zagalo: retrato do artista enquanto membro da Quercus

João Diogo Zagalo: retrato do artista quando jovem

Ru Manuel Amaral na Universidade do Minho

É já amanhã, na Universidade do Minho, que Rita Patrício falará da obra de Rui Manuel Amaral, autor do recente (e delirante) Doutor Avalanche. Se vive acima ou abaixo de Braga, não deixe de comparecer. Mais informações, aqui.

Um amor, uma vida

Isabela Figueiredo escreveu um post sobre o S. Valentim, livros em bibliotecas públicas, mementos dentro de livros e uma banda sonora muito adequada. O post do dia.

Leia-o e vá namorar.

Cerimónia de atribuição dos Prémios PEN Clube, na Sociedade Portuguesa de Autores, 10 de Janeiro de 2011

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O Autor Manuel Gusmão (cimo e esquerda) e Autoras e Autores premiados.

 

2010: Um ano fausto para a Angelus Novus

No ano de 2010, dois autores da Angelus Novus viram os seus livros premiados.

Vítor Aguiar e Silva, grande figura dos estudos camonianos e da teoria da literatura, conquistou o Prémio Nacional de Ensaio Literário Eduardo Prado Coelho, da Associação Portuguesa de Escritores, pelo seu livro Jorge de Sena e Camões. Trinta Anos de Amor e Melancolia.

Quanto a Manuel Gusmão, autor de uma vasta e significativa obra no domínio do ensaio e da poesia, com Finisterra. O Trabalho do Fim: ReCitar a Origem conquistou o Prémio de Ensaio do PEN Clube, ex aequo com Fernando Guimarães.

A Angelus Novus viu assim confirmado, no ano passado, o seu estatuto de editora de referência, estatuto que, estamos certos, o ano de 2011 virá reforçar.

Rui Manuel Amaral no Diário Câmara Clara

 

O Diário Câmara Clara, magazine cultural da RTP 2, emite, às 22h35 de hoje, uma peça dedicada ao livro Doutor Avalanche.

É já no sábado

[Clique na imagem para aumentar]

Isabela no Museu República e Resistência

É já depois de amanhã que Isabela Figueiredo vai estar no Museu República e Resistência para uma palestra integrada no ciclo «Memórias literárias da guerra colonial». A não perder!

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«Outubro», por Hugo Pinto Santos

Hugo Pinto Santos publicou, no site Orgia Literária, uma resenha de Outubro, de Rui Bebiano, que vale a pena ler. Eis uma amostra:

Independentemente de partidarismos, ortodoxias ou posicionamentos ideológicos, parece inegável a importância da Revolução Russa para a História enquanto estudo, bem como para a compreensão de, ainda, muito do que forma a actualidade e ajuda a explicar tantos dos seus sinais – «um tempo e um lugar onde foi possível acreditar na materialização de uma das mais antigas intenções humanas: o advento de uma época afortunada» (p. 5). Se, ao serviço do seu estudo e conveniente divulgação, estiver uma voz esclarecida e desembaraçada – despida, para mais, da ganga ideológica (ou que consiga não sufocar sob ela) tantas vezes associada a tais empreendimentos –, estamos perante um livro digno do maior interesse e de particular relevância. Outubro é um desses livros; Rui Bebiano, pelo seu percurso, como pelo que, neste seu livro, nos deixa, é esse autor.

O resto pode ser lido aqui.

Isabela no Funchal

Isabela Figueiredo, autora do Caderno de Memórias Coloniais, estará hoje à conversa com António Faria Paulino e com leitores na Festa do Livro do Funchal.

Será às 17 h, no Pavilhão dos Autores, nas instalaçoes da festa, na Avenida Arriaga da bela capital da Madeira. Amanhã, sexta-feira, Isabela dará autógrafos na FNAC Funchal, entre as 17h e as 20h.

Madeirenses, estais à espera de quê?

[Na imagem, mupi de Isabela à entrada do Funchal]

Tasos Leivaditis, por Manuel Resende (II)

DEDICATÓRIA
 
A todos os que nas noites tempestuosas das revoltas procuram uma lua infantil
aos que já não tinham tempo, aos que foram esquecidos
na doçura do sono quanto todos nos tinham abandonado
aos espelhos onde nos fitámos, aos mares que não navegaremos
aos caminhos que percorremos apaixonados e a que talvez não tenhamos voltado
ao destino, à bela juventude, aos viajantes
(e eu, aonde ia? e era assim tanto o que pedia? Mas agora é tarde – é tempo de partir)
às aves de arribação, às locomotivas a vapor que se cansaram e se viraram de lado para dormir
às espigas que a luz ilumina, às raparigas que despem a saia para entrarem no céu,
às cartas de um anjo para um menino, aos que se atrasaram, aos que nunca voltarão
à mulher que deita as cartas, ao velho que chora
à Odisseia que vive o poeta ao escrever o mais pequeno poema
ao instante luminoso que viveu um homem vivendo uma vida inteira…

Tasos Leivaditis, por Manuel Resende (I)

Tasos Leivaditis nasceu em 1922 em Atenas e aí morreu em 1988. Entrou na poesia e na resistência contra os alemães desde muito novo (Batalha na Extrema da Noite, Esta Estrela É para Todos Nós, os dois primeiros livros de uma obra que contou com mais de duas dezenas de títulos, retraçam precisamente essa experiência), esteve deportado entre 1948 e 1952, foi julgado, em 1955, pelo seu livro Sopra o Vento nas Esquinas do Mundo. Calado mais uma vez pela ditadura dos coronéis (sobreviveu de traduções), veio mais tarde a enveredar por uma poesia agri-doce, de reflexão íntima, mas sempre marcada pela experiência da juventude. O seu livro póstumo Os Manuscritos do Outono espelha essa tendência. Os poemas que agora publicamos são traduzidos por Manuel Resende, a quem agradecemos.

IDEOLOGIA 1

Tinha um braço maneta e para o esconder
Andava sempre com uma bandeira.

IDEOLOGIA 2

Foram tantas as cadeiras com que nos tentaram
Por isso agora fico sempre de pé como para cantar a Internacional.

ORAÇÃO

Deus, nunca te percebi e, mesmo que te percebesse, não podia com o teu peso.
Deus, com esta realidade tão reles à nossa volta corres grande perigo.
Como posso eu salvar­‑te?

«Vermelho Rouge»: Rui Bebiano sobre «A Esquerda Radical»

Rui Bebiano, autor da Angelus Novus e director da série de História da Biblioteca Mínima, acaba de publicar no seu A Terceira Noite um post obrigatório sobre O Essencial sobre A Esquerda Radical, o muito recente livro de Miguel Cardina.

Em 7 pontos, a melhor introdução possível à leitura de um volume apresentado por Bebiano como «uma eficaz síntese sobre a intervenção cívica, durante os derradeiros anos do Estado Novo, de um sector da oposição que até agora tem sido referido num registo meramente memorialista e autocomplacente, ou ao nível da boutade sobre o «tenebroso» passado político de Fulano, Sicrano ou Beltrano.»

Chama-se (e bem) Vermelho Rouge.

«Economia da Educação e Formação»: novidade

Dirigida por Margarida Antunes, Professora da faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, a série de Economia da Biblioteca Mínima estreia-se com uma obra de Margarida Chagas Lopes. Começando por uma crítica das teorias do «capital humano» na educação, a autora aborda depois os problemas fundamentais da Escola num contexto civilizacional marcado por mutações rápidas e imprevisíveis e num mercado de trabalho no qual os tempos de resposta da procura e oferta de mão-de-obra qualificada se revelam tendencialmente não coincidentes.

Num mundo em que a Educação e a Formação se tornaram bens críticos, este livro é fundamental também para se perceber as razões do bloqueio económico e social português.

«A Esquerda Radical», por Jean-Luc Godard (II)