Posted on Terça-feira, 27 Setembro 2011 by Aviador
Transcrevemos um texto que Maria Clara Murteira leu no lançamento do seu livro «A Economia das Pensões», na passada sexta-feira, 23, na Almedina Estádio, em Coimbra.
Nos anos quarenta, Titmuss, eminente académico com um contributo notável no domínio da política social, queixava-se daquilo que designava como a “obsessão dominante” do seu tempo, “de utilizar padrões de referência que elevam as coisas materiais acima das pessoas e tratam a dívida nacional como se esta tivesse maior importância do que (…) as pessoas” [1]. Para infortúnio dos nossos contemporâneos, creio, a obsessão com os défices e as dívidas encontra se hoje hiperbolizada. A preocupação com a escassez de recursos financeiros – os meios – conduz a generalidade dos analistas a negligenciar as finalidades das políticas, eclipsando totalmente o seu propósito humano.
Perspectiva que se revela hoje particularmente expressiva e perversa quando aplicada à esfera das políticas de segurança social. Analisados os sistemas de pensões sob a óptica exclusiva dos custos, o seu propósito último a segurança de rendimento na reforma – não é sequer mencionado em grande parte dos inúmeros estudos e análises publicados sobre esta matéria. Em consequência, o sucesso das políticas passa a ser avaliado a partir dos seus efeitos sobre os equilíbrios financeiros, presentes e futuros. Assim se construiu a retórica da insustentabilidade das políticas sociais, apoiada numa fortíssima pressão política para a contenção da despesa e na omissão dos efeitos perversos do modelo de regulação macroeconómica seguido na UE sobre esses equilíbrios. O impacto das políticas nas vidas humanas foi ignorado – não integrou a equação – ficando completamente obscurecido pelos dogmas e pelo esquecimento.
Acredito que há razões ponderosas que nos impelem a mudar de perspectiva, na análise económica em geral, mas sobretudo no domínio das políticas sociais, área de relevância crítica pelo seu contributo para a qualidade de vida e a plena realização das potencialidades humanas.
Por pensar assim, este livro foi escrito contra a corrente. Nele, as políticas de pensões são examinadas tendo como ponto de partida os fins dos sistemas e não apenas os seus meios: o livro centra se na segurança de rendimento na reforma.
Este modo, claramente minoritário, de analisar e avaliar as políticas parece me poder ser legitimado por dois argumentos. Porque a consistência lógica a isso obriga, já que o desempenho de um qualquer sistema só pode ser aferido pelo grau de concretização da finalidade que se propõe alcançar. E porque os sistemas de pensões, como quaisquer outros sistemas, não devem ser avaliados independentemente das suas finalidades humanas. Este é um imperativo ético.
[1] Richard Titmuss, The Nation’s Wealth, Extract from Parents Revolt (1943), reprinted in Pete Alcock, Howard Glennerster, Ann Oakley and Adrian Sinfield (eds.), Welfare and Well‐being: Richard Titmuss’s Contribution to Social Policy, Bristol, Policy Press, 2001, p.17.
Posted on Terça-feira, 27 Setembro 2011 by Aviador
Foi na passada sexta-feira, 23, na Almedina Estádio, em Coimbra. Perante um público numeroso e atento, Joaquim Feio, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, apresentou a obra de Maria Clara Murteira integrando a questão das pensões na longa duração da modernidade social e económica, chamando a atenção para os perigos do pensamento único nesta matéria e saudando a contribuição do livro para a denúncia do senso comum que hoje vigora na abordagem das pensões.
Posted on Terça-feira, 20 Setembro 2011 by Aviador
Com edição de Marcia Arruda Franco, professora da Universidade de S. Paulo e autora de dois livros sobre o autor na Angelus Novus, um grande acontecimento: a poesia de Sá de Miranda, na Biblioteca Lusitana, colecção dirigida por António Apolinário Lourenço e editada em colaboração com o Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra.
Fica mesmo ali, nas mãos da personagem de chapéu, e é o blogue do livro de João Diogo Zagalo. Com clips, podcasts, textos, FAQ’s, enfim, tudo o que puder imaginar. Um menu vasto, à sua inteira disposição.
É o autor do logo da Série Z (e do da Angelus Novus, e da Experimente no Sofá, e da Aviãozinho, etc.) e ainda o autor das artes finais da capa. Por outras palavras, foi ele quem a estragou sem piedade, dando-lhe aquele ar de coisa fanada e digna da nossa memória afectiva…
A ele e a Luís Coroado, ou seja, à Olhar-te, deve a Angelus Novus a sua renovada imagem gráfica. Beijinhos à Olhar-te!
E agora, deixem-nos olhar longamente para este logo sem igual…
Renuncia à ideia de um outro mundo, tal coisa não existe; mas não renuncies ao prazer de ser feliz e de dar prazer e felicidade neste mundo. Eis a única forma que a natureza te oferece para duplicares ou expandires a tua existência… Meu amigo, a volúpia foi sempre o mais precioso dos meus bens; venerei-a e honrei-a diariamente, e quis nos seus braços terminar a minha vida…
Ao virmos para a América, uma das coisas que mais aguçava a nossa curiosidade era percorrer os limites extremos da civilização europeia e, até, se o tempo o proporcionasse, visitar algumas dessas tribos índias que preferiram refugiar-se no mais selvagem isolamento a curvar-se perante aquilo que os Brancos consideram ser os prazeres da vida social. Porém, encontrar actualmente o deserto é bem mais difícil do que parece. Saídos de Nova Iorque e à medida que nos dirigíamos para noroeste, o objectivo da nossa viagem parecia desvanecer-se perante nós. Percorríamos lugares célebres na História dos Índios, subíamos vales por eles baptizados, atravessávamos rios que ainda hoje têm o nome das suas tribos…
Será que estes movimentos estiveram do lado certo da história?… Será que estes movimentos ganharam a sua luta?… O que me parece é que por lutarem, por serem movimentos, têm uma história para contar. Eles estão hoje presentes em muito do que é politicamente actuante na política portuguesa e internacional… mas estamos acima de tudo a falar daquelas pessoas que por lutarem já ganharam.
A sedução chinesa, via Paris. Sollers sorridente e militante (e disponível à pose heróica, com bandeira e tudo), Barthes, recuado e alheado (e de gravata). Um mundo de diferenças.